A
grande maioria dos selos Ceres com sobretaxa dupla são uma invenção.
Na
minha opinião, noventa por cento das sobretaxas duplas, que aparecem nesta
série, são falsas. Umas são provenientes de sobretaxas ambas falsas e outras de
uma sobretaxa genuína e outra falsa.
Castro
Brandão no seu minucioso estudo aponta a existência de três taxas onde
identificou sobretaxas duplas: 10C s/1C, castanho; 16C s/32C, verde e 40C s/2C,
laranja.
O
Engº. Miranda da Mota, refere a existência do 40C s/2C, laranja, com dupla
sobretaxa, num artigo intitulado “Um(a) Laranja Amargo(a) para os Catálogos,
publicado no Catálogo da XV Exposição Filatélica Nacional Gaia 90 e como
orientador técnico do catálogo Mundifil, confirma a existência de todas as sobretaxas
duplas catalogadas naquele catálogo.
Oliveira
Marques não refere a existência de sobretaxas duplas na série.
O
Catálogo Simões Ferreira começou por catalogar, o 80C s/ 48C, rosa, apenas em
usado. Em 1973 era ainda a única sobretaxa dupla catalogada. Em 1981, para além
do já mencionado 80C s/ 48C, catalogava o 10C s/ ¼C, sépia, papel acetinado, o
10C s/ 1C, castanho, papel liso, o 16C s/32C, verde, papel liso, o 40C s/ 2C,
laranja, papel liso, o 40C s/ 3C, azul, papel liso, o 1$60 s/ 2$00, verde cinza,
papel lustrado e o 1$60 s/ 20$00, azul-turquesa, papel lustrado.
O
Catálogo Portugal de Selos Postais de 1984 catalogava as mesmas sobretaxas
duplas do catálogo Simões Ferreira.
O
Catálogo Eládio de Santos não catalogava as sobretaxas duplas e se levarmos em
atenção de que era um catálogo que tudo catalogava, causa alguma estranheza.
A
série dos selos Ceres sobretaxados foi emitida em 1928/29. Se excluirmos a
sobretaxa dupla do 80C s/48C, que começou a ser catalogada, em usado, já nos
anos sessenta, todas as outras variedades aparecem catalogadas mais de quarenta
anos depois da emissão da série. A mim, este lapso de tempo entre a emissão da
série e a catalogação das sobretaxas duplas causa-me estranheza.
Atendendo
às sobretaxas duplas que aparecem bem impressas, sendo as mais usuais as de 10C
s/ ¼C, sépia, e 10C s/ 1C, castanho, temos de ter a noção de que dificilmente
uma folha que já tivesse recebido a sobretaxa, voltaria ao circuito da
impressão da sobretaxa, recebendo uma outra.
A
acontecer, teria havido intenção. Depois, se a folha recebesse duas vezes a
sobretaxa, proporcionaria pelo menos 180 sobretaxas duplas idênticas e mais uma
variedade deveras interessante. Note-se que, tendo em atenção a quantidade de
sobretaxas duplas diferentes que aparecem bem impressas e sabendo-se que por
folha seriam pelo menos 180 selos, estas seriam comuns e apareceriam em grandes
múltiplos, o que não é o caso. São por isso sobretaxas falsas.
Existem
efetivamente nesta série sobretaxas duplas genuínas, umas que terão ocorrido
provavelmente devido ao encravamento da folha aquando da impressão da sobretaxa
- neste caso o 16C s/ 32C, verde, do qual se conhecem selos isolados e vários
tipos de múltiplos, sempre novos –
e
outras, quanto a mim, mais raras, que não passarão de simples repintes, como é o caso do 80C s/48C,
rosa, que
foi a primeira sobrecarga dupla catalogada, em usado, no catálogo Simões Ferreira,
a qual aparece com carimbos de Lisboa, Alpedrinha e Fundão. Os repintes, em
princípio, não terão aparecido nos selos de toda a folha. Muitos deles terão
ocorrido apenas parcialmente na folha.
A causa provável terá sido devida ao
tamanho das folhas, à aderência/apartamento destas à impressora e a pequenos acidentes de impressão.
Imagem LSFilatelia
A
título de curiosidade observe-se a sobretaxa ampliada de um selo normal com a sobretaxa dupla do selo seguinte:
É perfeitamente visível o granitado da tinta tanto na sobretaxa normal como na sobretaxa dupla, que, neste caso se trata de um repinte.
Agora observe-se a sobretaxa normal ampliada de um selo de 10C s/ ¼C, sépia, e compare-se com a sobretaxa dupla do selo da esquerda deste par:
Verifica-se perfeitamente que a tinta que imprimiu a sobretaxa dupla é diferente.
Outro exemplo:
Julgo que não deixa dúvidas. Para uma deteção das falsificações, basta uma boa observação e comparação, de preferência, com várias sobretaxas normais do mesmo selo.
As sobretaxas falsas existem também nas boas coleções, fruto de quem coleciona mas que não observa/estuda os selos. Atente-se, a título de exemplo, a um exemplar da ex-coleção Jonh Sussex:
Hoje
já é possível observar imitações de repintes noutras taxas, pelo que a análise
aos selos, com estes tipos de variedades, deve ser atenta.
Bibliografia:
- Brandão, A. de Castro,
Variedades dos Selos de Tipo Ceres e Lusíadas do Continente - Mercado
Filatélico
- Mota, J.M. Miranda da, Um(a) Laranja Amargo(a) para os Catálogos, publicado no Catálogo da XV Exposição Filatélica Nacional Gaia 90
- Marques, A.H.R. de Oliveira, História do selo Postal Português, Volume II
- Catálogo Simões Ferreira
- Catálogo Portugal de Selos Postais – Numismática e Filatelia, Lda,
- Catálogo Eládio de Santos
- Catalogo Afinsa/Mundifil
- Mota, J.M. Miranda da, Um(a) Laranja Amargo(a) para os Catálogos, publicado no Catálogo da XV Exposição Filatélica Nacional Gaia 90
- Marques, A.H.R. de Oliveira, História do selo Postal Português, Volume II
- Catálogo Simões Ferreira
- Catálogo Portugal de Selos Postais – Numismática e Filatelia, Lda,
- Catálogo Eládio de Santos
- Catalogo Afinsa/Mundifil