sábado, 17 de novembro de 2012

Os Papéis

A identificação dos tipos de papéis em que os selos Ceres foram impressos, foi, é e será uma fonte de dificuldade para todos aqueles que os queiram identificar.
Vou divagar no tema, apresentando a minha ideia sobre o assunto, após observação de milhares de selos deste tipo.
A leitura dos escritos de Castro Brandão em Variedades dos Selos de Tipo “Ceres” e “Lusíadas” do Continente, Mercado Filatélico 1942, e dos Apontamentos sobre Selos Ceres – A Cronologia das Tiragens para o Continente de A. Guedes de Magalhães, de 1945, dá-nos a ideia do que já era uma trabalheira, naquele tempo, para a identificação dos vários tipos de selos e papéis.
Pereira Leite, com um estudo mais avançado, publicado na revista Mercado Filatélico, do início dos anos 70, retomou o assunto. Na revista FN, já nos últimos anos da década de 80, voltou com o mesmo tema, tendo, ao que me parece, a publicação do artigo/estudo, nesta última, ficado incompleto.
Vou, no entanto basear-me, para o que irei descrever, por ser mais atual e completo, no estudo realizado pelo Eng. Miranda da Mota e publicado na Convenção Filatélica de Setembro de 2003, com o título: Os papéis dos selos Ceres de Portugal.
Apenas farei referência aos tipos de papel em que os selos Ceres sobretaxados e sobrecargados foram impressos.
Assim:
Para uma análise a um determinado selo, este deve ser “apalpado”, observado contra a luz, observado a luz rasante e comparado com outros selos idênticos.
Os selos tipo Ceres, sobretaxados ou sobrecargados, foram impressos em papéis calandrados, papéis texturados, papéis sem acabamento especial e papéis coloridos sem revestimento.
As características destes papéis são:
Papéis calandrados – Uma forma de obter uma impressão mais nítida dos selos, consiste em submeter o papel a uma operação de polimento da superfície a imprimir, tornando-a mais macia e brilhante. Este acabamento mecânico resulta de se fazer passar o papel, a suficiente pressão, por entre os rolos de uma calandra, obtendo-se assim papéis mais ou menos calandrados, do que são exemplo o papel lustrado e o papel acetinado.
- Papel Lustrado – É macio, evidenciando, quando examinado contra a luz, um aspeto compacto, leitoso e sem qualquer textura.
- Papel Acetinado – É macio, é pouco brilhante. O de fabrico nacional pode apresentar ou não uma textura formada por pequenos losangos dispostos vertical ou horizontalmente.
No entanto, tenho reparado que alguns colecionadores têm dificuldades em diferenciar um papel acetinado médio/espesso (de fabrico estrangeiro) de um papel lustrado, pois algum tipo daquele papel acetinado, apresenta-se algo compacto, algo leitoso.
Papéis Texturados – No processo de fabrico do papel, quando a pasta é vazada na rede e esta apresenta uma textura entrançada, o desenho desta é transmitido à pasta e ao papel uma vez acabado. Este diz-se texturado. Quando observado contra a luz, o papel mostra esses desenhos. Nestes selos, aparecem-nos papeis que examinados contra a luz, apresentam linhas cruzadas formando pequenos losangos regulares com distribuição uniforme. Diz-se ser papel de origem estrangeira, nomeadamente inglês, alemão, austríaco ou sueco. Nos selos em que essa distribuição, dos pequenos losangos, é incerta, o fabrico é nacional. Em ambos os casos, os pequenos losangos aparecem com orientação vertical ou horizontal. No primeiro caso, os selos dizem-se em papel pontinhado, já no segundo, os selos dizem-se ser em papel liso pontinhado nacional, o qual não é considerado um papel texturado, sendo considerado um papel liso – papel sem acabamento especial.
Os papéis texturados conhecidos são:
Papel Pontinhado Vertical – Apresenta uma distribuição uniforme e nítida dos losangos com orientação vertical – sendo conhecido em papel mais transparente, em papel espesso e pontinhado ténue, forte e muito forte.
Papel Pontinhado Vertical Leve - Apresenta uma distribuição uniforme dos losangos, nítidos só quase nas partes não impressas do selo, particularmente nas margens.
Papel pontinhado Vertical impercetível - Apresenta uma distribuição uniforme dos losangos, mas quase só visíveis quando mergulhado em benzina.
Papel Pontinhado Horizontal - Apresenta uma distribuição uniforme e nítida dos losangos com orientação horizontal.
Papel Pontinhado Horizontal Leve - Apresenta uma distribuição uniforme dos losangos, nítidos só quase nas partes não impressas do selo, particularmente nas margens.
Alguns tipos de papéis pontinhados de fabrico estrangeiro, alguns de pontinhado quase impercetível, apresentam-se-nos muito macios e aparentemente calandrados, fazendo-nos, muitas vezes, relegá-los para os papéis acetinados, o que, contrariamente à noção que nos dá, devem ser classificados como papéis pontinhados.

Avergoado – Apresenta, quando examinado contra a luz, uma pauta de linhas paralelas.

Papel Liso Pontinhado Nacional
Papel Liso Pontinhado Nacional Vertical – Apresenta um pontinhado irregular e de distribuição incerta dos losangos e de orientação vertical. Existe em papel fino, médio e espesso.
Papel Liso Pontinhado Nacional Horizontal - Apresenta um pontinhado irregular e de distribuição incerta dos losangos e de orientação horizontal. Existe em papel fino, médio e espesso.
Papéis Sem Acabamentos Especiais – Estes papéis são obtidos quando a rede onde é depositada a pasta não deixar vestígios de marcas e quando o papel não receber qualquer tipo de acabamento – revestimento ou acabamento mecânico. Este é o papel liso, o menos cuidado no seu processo de fabrico e o mais comum na impressão dos selos Ceres.
Papel liso – É um papel não texturado, compacto – massa uniforme – sem brilho e de superfície algo áspera, podendo, igualmente, aparecer macio.
Durante os muitos anos em que foi utilizado na impressão dos selos Ceres, diversos foram os fornecedores e fabricantes deste papel, por isso torna-se difícil distinguir todas as suas variedades. Há, no entanto, quatro, que merecem reparo pela grande facilidade com que podem ser diferenciadas. São as variedades definidas como fino, médio, espesso e cartolina, e que são base de referenciação nos catálogos.
No entanto, a questão da espessura aplica-se a todos os tipos de selos Ceres.
E por falar em espessuras, aos selos Ceres não é aplicada a tabela internacional de Vinck.
Para estes selos foi criada uma tabela própria, a qual se encontra publicada no livro Portugal Ceres – Variedades de Cliché, da autoria dos Engs. Miranda da Mota e Armando Vieira e que é a seguinte:
Papel de seda – até 40 microns
Papel fino – de 41 a 65 microns
Papel médio – de 66 a 85 microns
Papel espesso – de 86 a 100 microns
Papel cartolina – acima de 100 microns

Papéis Coloridos Sem Revestimento – Estes papéis podem ser obtidos de duas maneiras: por coloração da pasta, ou depois do papel estar feito, fazendo-o passar por um banho de corante, removendo o excesso de corante através de cilindros de prensagem e secando finalmente o papel colorido.
Nos Ceres sobretaxados são conhecidas três variedades de papéis coloridos sem revestimento: O azulado, o amarelado e o parafinado.
Papel Azulado – Apresenta uma cor azul ténue que se nota nas partes não impressas do selo. Observado contra a luz, nota-se um pontinhado horizontal irregular de maior ou menor grau de nitidez.
Papel Amarelado – O tom de amarelo é leve e quando examinado contra a luz pode-se apresentar liso ou com pontinhado vertical ou horizontal, sendo, neste caso, a sua distribuição menos irregular e mais nítida no que no azulado. É conhecido também em espesso.
Papel Parafinado O papel parafinado é, em todas as taxas onde foi utilizado, mais ou menos acastanhado (parece-me que a cor base do selo tem influência na coloração do papel) e de aspeto oleoso, macio ao tato (parecendo acetinado - e talvez o seja) e apresentando-se liso ou, em alguns selos, com um pontinhado horizontal irregular.

Relativamente ainda a papéis, existem alguns selos da taxa de 10C sobre ½ C, num papel azulado, aparentemente diferente do usual, em denteado 15 x 14, cujo papel apresenta, quando examinado contra a luz, uma marca de água de dimensões 13,5 cm x 3, 3 cm, com a legenda “INVICTA / EXTRA STRONG”

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