sábado, 6 de julho de 2013

SOBRETAXAS OMITIDAS FALSAS


Há algum tempo adquiri, via eBay, um par vertical de selos Ceres novos, sobretaxados, do 40 C s/ 2 C laranja, cujo selo inferior apresentava omissão da taxa.

No imediato não me debrucei sobre a peça e coloquei-a no classificador.

Algum tempo depois, dediquei-lhe o tempo necessário à sua observação e estudo, vindo a concluir estar perante um par de selos Ceres, do 2 C laranja, papel liso, com sobretaxas/sobrecargas falsas.

Para uma melhor elucidação, observe-se um bloco normal do selo e repare-se na uniformidade das sobretaxas/sobrecargas:

 
 

Agora observe-se o par vertical referido:

 
 

A primeira característica observada, que só é visível através de observação direta, é a da tinta utilizada na impressão da sobretaxa/sobrecarga, que em nada é idêntica à original.

Depois, em traços gerais, observe-se outras características na referida sobrecarga:

No selo superior:

- A primeira barra, do grupo da esquerda, curva ligeiramente para cima, na esquerda

- O algarismo quatro é ligeiramente mais estreito, assim como a base do pé é mais curta, principalmente na direita

- A letra C é praticamente reta na base e defeituosa no topo.

No selo inferior:

- No grupo de barras da esquerda, a barra do meio é mais curta, em relação às barras superior e inferior

 

Em tempos apareceram no mercado duas quadras deste selo com a omissão da taxa. Nunca as tive nas mãos, apenas as observei por fotografia.

Sabendo eu que o meu par é falso, o que poderei dizer dessas duas peças:

 
 

Nestas peças pode-se ver que os pares verticais, da esquerda, são exatamente iguais ao meu par. Os pares verticais, da direita, são iguais entre si.

 Se esquecermos a palavra falso e nos limitarmos apenas a observar as peças, dá que pensar, estar na presença de três peças, de grau de raridade elevado, exatamente iguais.

 

sábado, 13 de abril de 2013

As sobretaxas omitidas

Oliveira Marques refere que a série dos selos Ceres sobretaxados/sobrecarregados existe com variedade de erros, não indicando quais, mas que deduzo, sem certezas, referir-se às atualmente chamadas variedades de cliché, uma vez que ele tem o cuidado de referir as variedades das barras afastadas, pelo que, provavelmente, assinalaria a existência de anomalias de impressão mais importantes, como é o caso da omissão da taxa, caso tivesse conhecimento da existência da mesma. 


Castro Brandão, no seu estudo, também não refere a existência, na série, de selos com a sobretaxa omitida.

Esta variedade não é referida no catálogo Simões Ferreira nem no catálogo Eládio de Santos, aparecendo apenas catalogada nos catálogos Afinsa e de orientação técnica do NFACP em meados dos anos 80.

Ao olharmos para esta variedade, interrogamo-nos de como terá ocorrido. A perspetiva é de que aquando da impressão da sobrecarga/sobretaxa, a margem inferior da folha estaria dobrada para cima, recebendo por isso a impressão da taxa e ocasionando a omissão da mesma no selo.
É uma situação possível?
Há quem afirme que sim.


Observada a sobrecarga/sobretaxa neste tipo de peças, esta não apresenta as mesmas características das originais, embora, aparentemente, apresentem a mesma tintagem das sobrecargas/sobretaxas genuínas.

Uma questão que se coloca também, era saber se este tipo de peças seriam verdadeiramente um erro, isto é, se teriam sido produzidas fortuitamente, sem que o tipógrafo se apercebesse do facto na altura da impressão.

Do meu ponto de vista entendo que muito dificilmente uma dobragem na parte inferior da folha se poderia ter processado de molde a produzir estes tipos de peças com tanta perfeição, sem que para isso tivesse havido intenção.
Este tipo de peça teve de ter sido produzido individualmente, com o cuidado de a margem da folha ter sido imobilizada de forma a não desdobrar.
Em todos os cantos de folha, deste tipo de selo, que vi até hoje, verifiquei que o denteado no fundo da folha não se prolongava até à extremidade desta, o que dificultava a dobragem acidental. 

Esta variedade, atendendo à tintagem e tipos utilizados, poderia ter sido produzida ao mesmo tempo que a impressão das sobrecargas/sobretaxas originais, mas, na minha opinião, porque confrontando-se estas sobrecargas/sobretaxas com as que foram aplicadas nos selos originais simples, isto é, sem qualquer tipo de variedade, encontramos discrepâncias na posição dos carateres em relação aos selos com sobretaxa/sobrecarga simples, pelo que é quase certo que não passará de uma variedade clandestina/falsa, produzida fora do sistema de impressão oficial. 

São conhecidos alguns blocos do selo de 10 C s/ ¼ C, sépia, denteado 12 x 11 ½ em papel liso e acetinado.
É curioso que as peças que aparecem têm o cuidado de se apresentar com os selos da fila superior devidamente sobretaxados, por forma a se poder fazer a comparação com a fila inferior. O selo sem taxa não aparece isolado, sem que dele faça parte a respetiva margem da folha com a sobretaxa.
 
É a única variedade catalogada, deste tipo, à qual é atribuída boa cotação, verificando-se que o mercado a absorve com interesse.
Da minha parte, porque a não considero genuína, direi apenas que vale o que vale, isto é, terá o valor que cada um lhe quiser atribuir como objeto de coleção.

Pessoalmente não conheço esta variedade em selo usado ou em pretensa peça circulada.




Este tipo de “erro” existe noutras taxas da emissão, cujas sobrecargas/sobretaxas, numa observação primária demonstram inequivocamente serem falsas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

As sobretaxas clandestinas

Papel acetinado, levemente pontinhado




Este é um assunto naturalmente controverso. 

Pela pesquisa que fiz, pareceu-me não haver quaisquer elementos escritos disponíveis sobre as sobretaxas/sobrecargas clandestinas, nos selos Ceres.

Quem ler, relativamente a estes selos, a História do Selo Postal Português, do Prof. Oliveira Marques, constata que é apenas referido que foram sobretaxados clandestinamente, na Casa da Moeda, alguns selos de 20 C, castanho claro, com 15 C, para efeitos de especulação filatélica.

O catálogo Eládio de Santos nunca se referiu a sobrecargas/sobretaxas clandestinas.

O catálogo Simões Ferreira, a partir de 1950, para além de fazer menção ao selo de 15 C s/ 20 C, castanho claro, como sendo sobretaxado clandestinamente, refere-se, igualmente, ao selo de 10 C s/ 1 C, castanho, como tendo sido sobretaxado clandestinamente no papel pontinhado e acetinado, no denteado 15 x 14. O catálogo de Pimentel Saraiva, de 1984, dizia que o selo de 10 C s/ 1 C, naqueles papéis, era falso e não fazia nenhuma referência ao 15 C s/ 20 C, sobretaxado em castanho claro.

Mais tarde, o catálogo do Ateneu, que viria depois a ser o catálogo Afinsa, refere-se aos selos 10 C s/ ¼ C, sépia, e 10 C s/ 1 C, castanho, informando que são conhecidas sobrecargas clandestinas sobre os selos em papel pontinhado e também sobre o selo 80 C s/ 6 C, rosa, em papel cartolina, não referindo denteados.


Se atendermos ao Catálogo Afinsa, este diz-nos que existem sobrecargas clandestinas sobre o  ¼ C sépia – 10 C s/ ¼ C - , sobre o 1 C castanho  - 10 C s/ 1 C - , ambos em papel pontinhado, e 6 C rosa - 80 C s/ 6 C -, este em papel cartolina e que o 15 C  s/ 20 C, castanho claro, foi sobretaxado fora da Casa da Moeda. Sobre este último ( 15 C s/ 20 C, castanho claro) há divergências entre  o catálogo Afinsa e Oliveira Marques, sobre o local da aplicação da sobretaxa clandestina.

Agora o busílis da questão: O catálogo Afinsa informa que são conhecidas sobretaxas clandestinas sobre os selos de 10 C s/ ¼ C, sépia, e 10 C s/ 1 C, castanho, em papel pontinhado. Não são referidos denteados.

Castro Brandão, no seu livro Variedade dos Selos Tipo “Ceres” e “Lusíadas” do Continente, publicado Mercado Filatélico do Norte de Portugal – Edição de 1942, aponta a existência do selo de 10 C s/ 1 C, castanho, em papel losangos verticais e horizontais no denteado 12 x 11 ½. Diz existir igualmente no denteado 15 x 14, em losangos verticais e horizontais. Deduzo que se refere ao selo classificado atualmente como papel liso pontinhado nacional. Não refere a existência, deste selo, em papel acetinado. 

Seguindo a informação do catálogo e se atendermos à classificação atual dos papéis deste selo, para efeitos de apuramento em qual tipo de papel foram aplicadas as sobretaxas clandestinas, temos, à partida, de excluir o denteado 12 x 11 ½, pois que o selo base não foi emitido, nesse denteado, em papel pontinhado. Em papel liso ( o pontinhado nacional é para todos os efeitos classificado como liso ) aparece catalogado em denteado 12 x 11 ½ e 15 x 14. O papel acetinado é catalogado em denteado 12 x 11 ½. Este selo em papel acetinado, denteado 15 x 14, não é catalogado, mas aparece sobretaxado, sendo este que é considerado sobretaxado clandestinamente. 

O selo de 10 C s/ ¼ C, sépia, é indicado no catálogo como ter sido sobretaxado clandestinamente em papel pontinhado, mas temos de excluir o selo em denteado 12 x 11 ½ pois que o selo base não foi emitido nesse denteado. Castro Brandão não refere o selo de 10 C s/ ¼ C, sépia, em denteado 12 x 11 ½ em papel losangos, tanto verticais como horizontais. Refere-o apenas em papel liso, denteado 12 x 11 ½. Igualmente não menciona o papel acetinado, situação que julgo ser um tipo/classificação de papel ainda não adotado na altura. Atualmente o selo é catalogado em papel liso e acetinado, em denteado 12 x 11 ½. Não é catalogado em denteado 15 x 14 em qualquer papel. Aparece no entanto sobretaxado no denteado 15 x 14, em papel acetinado, por vezes levemente pontinhado, sendo neste denteado que a sobretaxa é clandestina.

Não conheço estes dois últimos selos sobretaxados em papel pontinhado denteado 15 x 14 e julgo que não existam.

Aquele catálogo não refere, igualmente, a existência do selo de 80 C s/ 6 C, rosa, em papel cartolina, em denteado 15 x 14, apenas o refere em denteado 12 x 11 ½. Atendendo à informação do catálogo, o selo de 80 C s/ 6 C, rosa, foi sobretaxado clandestinamente em papel cartolina. O catálogo, no entanto, cota-o em papel cartolina, no denteado 12 x 11 ½, e quem não estiver bem atento, fica confuso. Sabendo-se que a sobrecarga clandestina é a mesma das originais, não há diferença destas, a não ser na impressão, aparentemente menos granitada, mas até este critério é de difícil aplicação. Castro Brandão apenas refere a existência deste selo, em papel cartolina, no denteado 12 x 11 ½. Assim, a sobretaxa clandestina foi aplicada sobre os selos de 80 C s/ 6 C, rosa, em papel cartolina, mas no denteado 15 x 14.

O selo de 15 C s/ 20 C, castanho claro, é de fácil identificação, pois a sua coloração é mais esbatida que a tonalidade do selo com sobretaxa genuína.
 
Agora a pergunta lógica: Mas se Oliveira Marques diz, que os correios não tiveram a preocupação de distinguir papéis ou picotados, aquando da aplicação das sobrecargas/sobretaxas, e se olharmos para alguns selos, em várias variedades e denteados, dos que compõem a série e que são catalogados, como se chega à conclusão de que só as sobretaxas dos selos atrás indicados são clandestinas?

Ao não ter encontrado resposta para tal pergunta, respondo especulativamente e dentro do cruzamento de informações que fui obtendo.

Assim, ao longo dos anos, houve quem se tenha dedicado ao estudo de assuntos desta natureza. No caso dos selos Ceres - papéis, denteados e sobrecargas - terá sido através da observação de peças circuladas e exemplares obliterados. A partir daí extraíram-se os dados sobre o período de circulação dos diversos tipos de papéis, denteados e tonalidades. Na posse desses elementos, foi possível chegar-se à conclusão de que alguns selos, nalguns tipos de papéis, denteados e tonalidades, não podiam ter sido sobretaxados, uma vez que se sabiam há muito esgotados e observadas as sobretaxas/sobrecargas que ostentam, verificou-se que a tinta que as imprimiu, difere da original.

Esta é a ideia que formalizo, que provavelmente não será consensual.

Nota: Após ter escrito este texto, chegou-me às mãos o catalogo Afinsa de 2013, tendo verificado que já se encontra retificado o tipo de papel em que são conhecidos os selos clandestinos da taxas de 10 C s/ ½ C, sépia e 10 C s/ 1 C, castanho – papel acetinado - não referindo, no entanto, os denteados. Igualmente verifiquei que foi retificado o local onde foram sobretaxados clandestinamente, em castanho claro, os selos de 15 C s/ 20 C.

Papel acetinado